Tecnologia, Arte e Educação

Em minha experiência como professor de tecnologia, lembro-me de que uma das grandes frustrações que senti, além da péssima remuneração por um trabalho que poucas pessoas se dispõem a fazer corretamente, foi perceber como o ensino tecnológico básico no Brasil está desconectado do ensino formal. Notei que muitas escolas, tanto públicas quanto particulares, ainda caminham a passos lentos em direção a uma educação básica tecnológica verdadeiramente inclusiva. Acredito que isso se deve, em grande parte, ao fato de o mercado tecnológico brasileiro ser muito pequeno, o que gera uma alta demanda por mão de obra qualificada. Essa mão de obra qualificada acaba sendo atraída pelo mercado, que oferece uma remuneração acima da média em comparação com outras profissões no país, o que faz com que esses profissionais raramente considerem como os nossos jovens estão sendo formados. Isso os faz se sentirem de certa forma especiais, dado que usufruem de privilégios que a maioria da população não tem.

Meu objetivo aqui não é apontar a conhecida desigualdade social do Brasil, mas sim mostrar que, devido a esse pequeno privilégio, muitos se recusam a compartilhar o conhecimento de maneira realmente efetiva, por medo inconsciente de perder seu status de superioridade em relação àqueles que estão sendo formados em condições precárias em nosso país.

Assim como as artes, que estão sendo gradualmente eliminadas das nossas escolas de forma proposital, a tecnologia também se torna um objeto de desejo inalcançável para as massas. Penso no dia em que todos os brasileiros terão acesso a uma educação básica justa e digna, que os ensine, primeiramente, a serem pensadores livres, artistas e tecnologistas qualificados, auxiliados por professores capazes, que não estejam ensinando de forma automática, ocupando uma função tão importante sem realmente amar e entender o impacto de suas ações cotidianas sobre seus alunos. Acredito que, nesse dia, a primeira geração formada integralmente em um sistema educacional libertador será composta por pessoas verdadeiramente livres. E quando todos os cidadãos se tornarem pensadores e pessoas livres, quem irá sobrar para servir? Talvez, então, comecemos a valorizar todos os nossos familiares ou conhecidos que servem em casas de outras famílias como faxineiros, pintores de casas, construtores e servidores em geral, assim como ocorre em países que se dizem desenvolvidos. Ou será que o leitor realmente acredita que o sucateamento da educação no Brasil é por acaso? Manter as pessoas sob um espectro de ignorância é conveniente não só para as classes sociais mais altas, mas também para a classe média, que tira vantagem dessa ignorância ao oferecer trabalhos pouco dignos a um preço baixo para uma população que não possui conhecimento suficiente para reivindicar seus direitos e negociar remunerações justas. Não me entendam mal, considero que todo trabalho é digno desde que seja remunerado de forma apropriada, o que não acontece em nosso Brasil.

O ensino da tecnologia e da arte, hoje em dia, é um privilégio quase exclusivo das classes sociais altas do nosso país. A classe média é ensinada a trabalhar e servir, enquanto a classe alta se dedica à tecnologia e às artes. É visível que nossos jovens colocam artistas modernos em pedestais quase divinos, mas eu questiono: e quando esse paradigma mudar e esses jovens perceberem que todos são artistas em potencial? E se esses jovens descobrirem que essas habilidades podem ser treinadas e que é possível viver de arte? Acredito que seria mágico. O ensino tecnológico aliado ao ensino artístico moderno não só pode libertar toda uma massa, como também capacitá-la para trabalhar e empreender de forma independente, sem a necessidade dos meios formais de trabalho, corrompidos pelas desigualdades sociais e raciais impostas. Embora muitos direitos trabalhistas tenham sido conquistados, muitos desses direitos são usados contra o próprio trabalhador na hora de negociar propostas justas de remuneração. Em minha opinião, o trabalhador que serve deveria ser o mais bem remunerado pela sociedade, assim como ocorre em diversos países com sociedades mais avançadas ética e moralmente. Faço um convite ao leitor para refletir: quem mais se interessa em manter a população ignorante e servil por um preço baixo?

É impressionante perceber como esse véu de ilusões é delicado, pois se sustenta na premissa de que as pessoas no Brasil não irão atrás de educação, uma vez que todas as fontes de informação que consomem as fazem se abster de qualquer conceito de aquisição de conhecimento, chegando a desenvolver aversão ao saber, resultado de um trauma propositalmente infligido pelo sistema educacional. O primeiro passo para uma sociedade civilizada é entender que o meu bem-estar não deve interferir no bem-estar alheio, e que todo conhecimento ao qual eu tenho acesso deveria ser acessível a todos de forma igualitária. E devemos nos lembrar de que até o ato de se alienar e não entender a realidade que o cerca, muitas vezes se escondendo em seus próprios privilégios, já é uma escolha, e uma escolha que traz enormes malefícios para as classes vulneráveis no nosso país. Não me venham com argumentos separatistas, falando de esquerda e direita; aqui falo de JUSTIÇA e DIGNIDADE, conceitos que deveriam estar presentes em todos os espectros políticos. A separação ideológica é outra ferramenta utilizada para afastar as pessoas, impedindo que se associem com seus semelhantes e fazendo com que a própria população se afunde em sua própria ignorância. Espero que um dia todos os meus irmãos possam fazer aquilo que realmente gostam e sejam prósperos. Servir por obrigação é um destino desenhado por terceiros, que gostam de ser servidos e pagar pouco por isso.

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