Instituto Nova Alvorada - Intenções, Métricas, Reinclusão Social e o condomínio que é o setor de T.I. no Brasil

Ultimamente, venho analisando como o mercado de trabalho em tecnologia da informação tem se transformado, adaptando-se aos novos talentos e respondendo à nova geração de trabalhadores que, de alguma forma, conseguiu ingressar nesse meio privilegiado no Brasil. Gostaria de começar abordando o malabarismo que precisei fazer para conquistar uma vaga nesse setor, considerando que as oportunidades podem ser comparadas às peneiras realizadas por jogadores para entrar em times de futebol. As vagas existem, a mão de obra é necessária, mas as empresas decidem arbitrariamente quem elas permitirão trabalhar. Ou seja, o trabalhador fica à mercê de decisões que não se baseiam apenas no currículo e habilidades, mas em um contexto que a empresa considera ideal para o perfil de um profissional nesse ramo. Em 2018, enquanto cursava a faculdade, percebi o quão desafiador era entrar nesse setor. Costumo chamar o setor de TI nacional de "condomínio empresarial". Quem já morou em um condomínio entenderá essa analogia: as empresas se auxiliam mutuamente para decidir quem deve ou não ser contratado. De forma semelhante, elas podem excluir alguém do mercado, caso desejem. Por mais que eu demonstrasse talento e proatividade, oferecendo-me até para trabalhar sem remuneração, era constantemente rejeitado devido à falta de experiência. Até que, por uma coincidência do destino, recebi uma oferta para trabalhar no exterior em um contrato de seis meses. Essa era a oportunidade que eu precisava para me consolidar na área sem depender do "condomínio" de TI no Brasil. Fui embora do país, aprendi a trabalhar e adquiri a experiência que tanto pediam, mas que não queriam me oferecer. Não apenas aprendi, mas me tornei um especialista na minha área, sendo reconhecido como um dos melhores enquanto era considerado "apto" pelos integrantes do "condomínio".

Em 2021, recebi uma das melhores ofertas da minha carreira até então, quase irrecusável: o dobro do meu salário na época. Mal sabia que essa seria uma das piores decisões que tomaria na minha vida até então. Entrei em uma empresa totalmente desestruturada, onde todos eram considerados desenvolvedores e sócios. Na prática, vivi o ditado: "em uma empresa onde todo mundo é dono, ninguém é". Como resultado, enfrentei diversos episódios de burnout, muitas vezes induzidos por situações estressantes criadas deliberadamente para me prejudicar. Cheguei a um ponto em que disse basta. Por mais alto que fosse o salário, nunca permitiria ser maltratado por dinheiro. Saí da empresa, mas fiquei malvisto no "condomínio". E, uma vez mal falado nesse círculo, seu destino está traçado: dificilmente encontrará novas oportunidades. Essa experiência me fez perceber que, no Brasil, ser excluído do mercado depende apenas de quem você desagrada. Atualmente, até mesmo profissionais altamente competentes estão sendo desvalorizados com o surgimento de um novo conceito: as "soft skills". Esse termo, antes inexistente no setor de tecnologia no Brasil, agora serve como um filtro subjetivo que muitas vezes exclui talentos técnicos por preconceitos e padrões elitistas. Pela primeira vez, voltei a me sentir como no início da minha carreira: excluído. Diante disso, decidi agir, e agir pelo bem. Não vou deixar meu país novamente para trabalhar. Minha missão agora é expor essa realidade e gerar mudanças no mercado de trabalho brasileiro. Assim nasceu a ideia da Instituição Nova Alvorada, a primeira ONG de tecnologia do Brasil, que oferece vagas, cursos, acompanhamentos e treinamentos para pessoas em situação de reintegração social, como ex-detentos. Quero criar uma nova terminologia: as vagas de Reinclusão Social.

Minha missão é firmar parcerias com o setor público e entrar em contato com o maior número possível de empresas, de todos os setores, para mapear a disponibilidade de ofertar vagas, cursos e treinamentos voltados para a reinclusão social. A plataforma contará com um sistema de ranqueamento, oferecendo apoio psicológico e jurídico aos candidatos durante sua jornada de retorno à sociedade. As empresas poderão estabelecer metas para os candidatos, como a conclusão de cursos presenciais ou online disponibilizados pela plataforma, acompanhamento psicológico contínuo, e participação em treinamentos. Sonho com uma sociedade onde ninguém seja impedido de exercer seu ofício por preconceitos ou julgamentos equivocados. Minha missão é expor essa realidade e promover mudanças. A Instituição Nova Alvorada nasce com esse propósito. Publicaremos relatórios anuais listando as empresas contactadas e suas posições sobre a oferta de vagas de reintegração social. As empresas não devem ser cúmplices da desigualdade social, mas sim agentes de uma sociedade mais justa e igualitária, oferecendo oportunidades dignas para todos que desejam se desenvolver pessoal e profissionalmente. A plataforma entrará no ar em 2025, fiquem ligados.

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